Simão Pedro

Nicole Furlan Latanza

1. A VIDA DE PEDRO

Autor da 1ª e 2ª Epístolas de Pedro do Novo Testamento, Pedro era inicialmente chamado de Simão, um nome de origem hebraica que significa “aquele que ouve”. Simão nasceu em Betsaida, na Galileia. Era filho de João e irmão de André, pescador por profissão e quem o apresentou a Jesus.

Jesus o chamou Cefas, nome de origem aramaica, que em grego significa “Petrus/Petra (Pedra/Rocha Maciça)”, como descrito em João 1:42: “E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: “Você é Simão, filho de João. Será chamado Cefas” (que traduzido é ‘Pedro’).”
ARAMIS (2006) nos traz informações valiosas, como a respeito de alguns detalhes da vida de Pedro. Por inferência Bíblica, sabemos que Pedro já se encontrava casado ao iniciar sua carreira cristã. Sua casa em Cafarnaum, na Galiléia, foi palco de um dos primeiros milagres por ele presenciado como discípulo: a cura de sua sogra: “Entrando Jesus na casa de Pedro, viu a sogra deste de cama, com febre. 15. Tomando-a pela mão, a febre a deixou, e ela se levantou e começou a servi-lo.” (Mt 8:14-15)

Pedro teve uma filha de seu casamento, Petronila, que o acompanhou em suas viagens a Roma. Ela foi acometida por uma enfermidade que a impediu de usar seus membros, porém, foi curada alguns anos depois, após aperfeiçoamento pessoal devido o sofrimento. Ela faleceu 34 anos após a morte de Pedro.

2. O CHAMADO: O PESCADOR DE HOMENS

“Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus e disse: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!” (…) Jesus disse a Simão: “Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”. (Lc 5:8-10)

Logo após uma pesca milagrosa ocorreu o chamado de Jesus para Pedro, quando este morava em Cafarnaum. Pedro tinha, aproximadamente, 34 anos de idade no início de seu discipulado.

Como podemos perceber em Lucas 5, versículos 1 a 11, Pedro e seus amigos tentaram, sem sucesso, pescar durante toda a noite. Jesus então chegou nesse momento e pediu a Pedro que afastasse o barco da terra para que Ele pregasse a palavra de Deus. Após terminar a pregação, Jesus ainda pediu para que Pedro fosse até o alto-mar e lançasse novamente as redes. Em um primeiro momento Pedro hesitou, porém, atendeu ao pedido do Mestre e pescou uma quantidade tão grande de peixes que o deixou, juntamente com todos os que ali estavam, imensamente espantados. Logo após, Jesus convidou a Pedro para ser “pescador de homens” e, assim, Pedro imediatamente O seguiu. Após o milagre da pescaria, a divindade de Jesus ficou em evidência e Pedro entendeu que por ser um mero pecador era indigno de estar ao lado dEle. Porém, após esse episódio, Pedro abandonou tudo para seguir a Jesus e, a partir daquele momento, seria “pescador de homens”, disseminando a palavra de Deus.

3. O DISCÍPULO INCONSTANTE

Segundo ARAMIS (2006):

“O impacto causado pela figura de Pedro ao leitor do Novo Testamento obedece à razão direta de sua semelhança com cada um de nós, na complexidade de nossas contradições e ambiguidades. A natureza de Pedro assemelha-se a um turbulento redemoinho onde multiplicam-se abundantemente as mais louváveis virtudes e as mais repreensíveis fraquezas.”

Pode-se dizer que Pedro não era modesto e com muita frequência era impositivo, tempestuoso e impulsivo. No entanto, possuía uma imensa vontade de servir a Jesus e, devido à sua impulsividade, se destacou dentre os doze. Com frequência ele se colocava à frente dos demais apóstolos, sendo o que mais se manifestava, até com certa agressividade, na maioria das vezes.

Seu comportamento era imprevisível e seguia uma linha da mais profunda coragem, como andar sobre as águas (Mt 14:28-31), até atitudes covardes como a de negar por três vezes o seu Mestre (Mt 26: 69-75).

Essa combinação de coragem e covardia nos mostra que Pedro era ao mesmo tempo forte e instável. De todos os que seguiam a Jesus, Pedro está disparadamente à frente no quesito de ter a Sua atenção. Ao mesmo tempo em que era discipulado por Jesus com profundo amor, paciência e misericórdia, sem sombra de dúvidas foi o apóstolo que mais repreensões e censuras, muitas vezes duras, recebeu. Pedro foi, ainda, quem mais se manifestou e se atreveu a advertir o próprio Mestre. Porém, aos poucos seu caráter foi sendo moldado até se mostrar profundamente fiel a Cristo e se tornar um líder grandemente lembrado!

Apesar de muitas vezes entrar em contradição e perder a razão nas suas atitudes tempestuosas e abusivas, Pedro tinha consciência da autoridade que Jesus exercia e do motivo de Sua vinda. Isso fica claro na passagem em que Jesus pergunta aos doze se eles também O abandonariam, após uma dura pregação. Pedro tomou a frente e Lhe respondeu, certo da escolha que fizera, em João 6:67-69: “Jesus perguntou aos Doze: ‘Vocês também não querem ir?’ Simão Pedro lhe respondeu: ‘Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus.’ Essa passagem nos mostra o quanto Pedro ansiava pelo Messias.

4. TRANSFORMAÇÃO DE UM DISCÍPULO – o Recomeço para Pedro

Pedro andou com Jesus durante todo o Seu ministério, que durou cerca de 3 anos. Durante esse tempo, ouviu e presenciou Seus ensinamentos e milagres. Devido à sua personalidade forte, Pedro era um líder entre os discípulos.

O texto de Lucas 22:31 a 34 registra que, após a última ceia, Pedro disse que morreria por Jesus. Apesar de afirmar isso com convicção, Jesus disse que intercedeu por ele para que não lhe faltasse fé, pois Satanás iria provar a fé dele e dos demais discípulos.

Note que Jesus disse que Pedro deveria ajudar os outros discípulos quando se convertesse, pois apesar de andar com Jesus e estar próximo a Ele, ainda não era convertido verdadeiramente. Após negar a Jesus, Pedro chorou amargamente porque viu que naquele instante agiu como um verdadeiro mentiroso, fazendo falsas promessas ao Mestre. Apesar de Pedro ter traído a Jesus, não perdeu o temor ao Senhor e buscou Seu perdão.

Durante o julgamento e crucificação de Jesus, não se sabe ao certo onde estava Pedro. Especula-se que ele se refugiou em uma casa nos limites de Jerusalém, local onde Jesus se reunia com seus seguidores e um abrigo contra possíveis investidas dos judeus.

Após a morte de Jesus, Pedro, juntamente com outros discípulos, dentre eles João, Tomé, Bartolomeu e Tiago Maior, decidiram voltar a pescar, porém na primeira tentativa não conseguiram nada. Jesus apareceu, porém, não O reconheceram de imediato. Então, Jesus sugeriu lançar a rede novamente, e assim obtiveram sucesso, como descrito em João 21.4-7:

Diante desse milagre, Pedro se lembrou do início de seu discipulado com Cristo e foi ansioso ao encontro dEle para buscar Seu perdão. No entanto, esse encontro tão esperado por Pedro aconteceu apenas na terceira aparição de Jesus após Sua ressurreição. Jesus chamou-o para conversar e a vida de Pedro começou a mudar completamente nesse momento.

Jesus confrontou Pedro com três perguntas a fim de que ele pudesse refletir sobre qual amor tinha por seu Mestre, se um amor profundo (amor Ágape) ou apenas uma afeição carinhosa e amigável (amor Philos/Phileo):

“E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de João, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.” (Jo 21:15-17).

Pedro entendeu que não poderia mais ser aquele homem instável e cheio de dúvidas, pois agora teria que estar disposto a dar sua própria vida pelo seu ministério. No livro de Atos, podemos perceber a transformação de Pedro por suas atitudes relatadas.

5. MINISTÉRIO E EXECUÇÃO EM ROMA

No livro de Atos dos Apóstolos, podemos perceber que Pedro se tornou ousado, seguro e um ótimo líder. Seu ministério iniciou com o Pentecostes, levando muitos a aceitarem a fé em Cristo.

Sua pregação, assim como a dos demais apóstolos, começou a incomodar e a “sair do controle” da hierarquia religiosa da época, a qual tentava impor ao povo que o que os discípulos pregavam era mentira. Pedro, muitas vezes, ministrava dentro do templo e, devido a isso, a classe aristocrata sacerdotal começou a persegui-lo, pois não queriam perder seu status perante os romanos.
Em seus últimos anos, Pedro viveu em Roma, segundo alguns testemunhos históricos. Nos escritos de Eusébio de Cesaréia, existe uma citação na qual fala que os nomes de Pedro e Paulo se encontram no cemitério de Roma (História Eclesiástica – Livro II, XXV, item 5):

XXV. [Da perseguição nos tempos de Nero, na qual Paulo e Pedro foram adornados com o martírio pela religião em Roma]: Assim pois, este, proclamado primeiro inimigo de Deus entre todos os que o foram, levou sua exaltação ao ponto de fazer degolar os apóstolos. De fato, diz-se que sob seu império Paulo foi decapitado na própria Roma, e que Pedro foi crucificado. E disto da fé o título de Pedro e Paulo que predominou para os cemitérios daquele lugar até o presente.

Nesses mesmos escritos, encontramos informações sobre a forma como o apóstolo morreu e em que lugares pregou sobre Cristo (História Eclesiástica – Livro III, I, item 2):

I. [Em que partes da terra os apóstolos pregaram sobre Cristo]: 2. Pedro, segundo parece, pregou no Ponto, na Galácia e na Bitínia, na Capadócia e na Ásia, aos judeus da diáspora; por fim chegou a Roma e foi crucificado com a cabeça para baixo, como ele mesmo pediu para sofrer.

Segundo ARAMIS (2006), Pedro esteve em Roma durante o reinado de Nero, mas não se sabe por quanto tempo permaneceu na cidade. Foi vítima de uma ferrenha perseguição, foi preso e crucificado. O local de sua prisão foi na Masmorra de Mamertina, uma das mais desprezíveis construções concebidas pela bestialidade de Roma, onde as condições eram das mais desumanas e abomináveis já imaginadas.

Porém, nesse mesmo local, segundo George Jowett, Pedro converteu os seus carcereiros e 47 prisioneiros.

O julgamento de Pedro foi tão injusto quanto o de Jesus. Foi passível de diversas manipulações e distorções, fruto da perseguição contra os cristãos e contra a palavra de Deus para permanecer intocada a soberania romana. A explicação para o pedido de Pedro por ser crucificado de cabeça para baixo, seria a que ele se achava indigno de morrer como seu Senhor.

6. PRIMAZIA DE PEDRO NA IGREJA

Alguns consideram Pedro como a rocha base da igreja. Isso ocorre devido à interpretação distorcida da teologia romana do texto de Mateus 16:13-19:

Essa interpretação insiste que a pedra em que Jesus edifica a sua Igreja seja Pedro, tornando-o o primaz dos apóstolos e, assim, bispo monárquico de toda a Igreja. Porém, considerando o texto e o contexto bíblico em que está inserido, a pedra sobre a qual a Igreja de Cristo foi erguida é a fé e certeza divinas reveladas de que Jesus, o Filho de Deus, é o Cristo. Em 1 Coríntios 3:11, Paulo também deixa isso claro: “Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo.”

As “chaves do reino dos céus” referem-se à autoridade dada a Pedro para iniciar a propagação da mensagem de Deus entre as nações. A Palavra de Deus deixa claro quais eram as posições de Jesus e Pedro. Jesus é o Alicerce, a Fundação: “Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos?” (Mt 21:42); “Pois nenhum homem pode lançar outro alicerce senão aquele que foi lançado, que é Jesus Cristo.” (1 Co 3:11)

Assim, a palavra de Deus não deixa dúvidas de que a posição de Pedro e dos demais Apóstolos é de serem colunas, sustentadores, e não de fundação da igreja, como diz em Gálatas 2:9:“Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos.”

REFERÊNCIAS
A BÍBLIA. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada. 2ª ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
BARROS, Aramis C. Doze Homens, Uma Missão: Um perfil bíblico-histórico dos doze discípulos de Cristo. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2006.
CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica, 1999. 223 f. E- Book. São Paulo. 2002.

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