A Igreja Perfeita

Pastor Alexsandro dos Reis Fernandes

Neste semestre, prosseguimos com o segundo módulo de nosso Seminário Teológico, uma das frentes destinadas ao ensino da Palavra de Deus de nossa Associação Batista Livre de Ensino – ABALE. Estudamos, recentemente, o Livro de Atos, destacadamente o processo de formação e o estilo de vida adotados pela igreja primitiva, tema sobre o qual pretendemos nos debruçar a seguir.

Gostaríamos de iniciar com uma intrigante pergunta: Existe (ou já existiu) um modelo perfeito de igreja? Ou uma igreja perfeita? Uma análise rápida nos conduzirá a uma não menos apressada resposta: Não, não existe, nunca existiu e jamais existirá um modelo ou uma igreja perfeita! Mas será essa a melhor resposta?

O ministério de Jesus aqui na terra foi extremamente próspero. No curto lapso de três anos Cristo, dentre tantos feitos grandiosos, elegeu e formou seus apóstolos, deixando a cargo dos mesmos a nobre missão de levar adiante a obra magnífica que havia iniciado. A Pedro, em especial, delegou a incumbência de liderar a igreja que estava prestes a ser constituída (Mt 16:18; Jo 21:15-19) e que teria o próprio Jesus no fundamento.

Após a partida de Jesus, o crescente número de discípulos continuou se reunindo no templo e aos poucos também nos lares, onde eram discipulados e instruídos na Palavra. A igreja, rapidamente, se constituía sob a liderança de Pedro e direção do Espírito Santo, erguendo-se sobre sólidas estruturas, as quais podemos identificar através do relato constante em Atos 2:42-46:

Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo.

Uma simples e rápida leitura do trecho acima já nos permite identificar três pilares sobre os quais se sustentava a igreja primitiva, a saber, dedicação ao ensino da palavra, à comunhão e às orações.

O ensino da palavra, capitaneado pelos apóstolos, tinha como base a instrução transmitida a eles pelo próprio Jesus, condensada nos dois maiores mandamentos, o primeiro deles, amar o Senhor de todo coração, de toda alma e de todo entendimento e, o segundo, amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22:37-39).

Salta aos olhos, ainda, o elevado nível de comunhão existente na igreja primitiva, assim como a enorme dedicação dos irmãos para mantê-la. Os cristãos de Atos não se contentavam em se reunir uma vez por semana, ao contrário, estavam sempre juntos e se encontravam diariamente para estudarem as escrituras, orarem, compartilharem suas alegrias e tristezas. A fé cristã era uma jornada diária para eles, não apenas uma rotina semanal ou dominical.

O zelo e o cuidado de um para com o outro eram igualmente evidentes. E isso não se restringia a aspectos espirituais ou emocionais, estendendo-se também ao aspecto material. Lucas nos conta que os irmãos mais abastados, providos de recursos, chegavam a vender seus bens e dividir o dinheiro arrecadado entre os mais necessitados.

Esse maravilhoso clima de comunhão e unidade fortalecia a igreja e agradava sobremaneira o Senhor, ensejando, inclusive, ações severas de sua parte com vistas a protegê-lo. Tal realidade se evidencia no episódio envolvendo Ananias e Safira, narrado no capítulo 5 do Livro de Atos. Segundo o relato bíblico, eles haviam vendido uma propriedade, retido parte do dinheiro e “colocado aos pés dos apóstolos” a outra porção. Não havia nada de errado nisso. O problema surge, contudo, no momento em que o casal mente , alegando ter entregue aos apóstolos todo o valor arrecadado com a venda da propriedade. Deus, diante da iminente ameaça ao clima de paz, unidade e comunhão existente na igreja, age de forma dura e emblemática, matando Ananias e Safira.

Era mais um ataque de Satanás contra a igreja, a qual, diga-se de passagem, jamais deixará de ser combatida. Havia feito isso externamente, ameaçando, atacando e aprisionando os cristãos, mas agora, lançando mão de uma nova estratégia, passa a atacar a igreja internamente.

Havia ainda um terceiro pilar que sustentava a igreja. Trata-se da oração, à qual se dedicavam incansavelmente os irmãos. Estavam em constante diálogo com o Senhor, junto ao qual buscavam direção, amparo e conforto. Uma irmã querida de nossa congregação sempre diz que a oração é “o oxigênio da igreja, o oxigênio da alma” e cremos que ela esteja coberta de razão. O exemplo deixado pela igreja primitiva confere integral balizamento a essa assertiva.

O modelo adotado pela igreja nos primórdios do Cristianismo, como não poderia deixar de ser, impactou e gerou transformações profundas onde estava sediada e, também, nos arredores. O texto acima diz que muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Curas, milagres, livramentos e conversões são noticiados de forma abundante em todo livro de Atos.

Lucas afirma, ainda, que o “estilo de vida” da igreja alcançava a simpatia e o respeito de todo o povo, que a enxergava como local de bênçãos e habitação do Deus Altíssimo. Todos que dela faziam parte tinham suas necessidades espirituais, emocionais e materiais supridas a contento.

O relato quanto ao panorama da igreja primitiva se encerra com uma inusitada e viva declaração. Lucas afirma que os irmãos louvavam ao Senhor em todo tempo, como dito acima, caíam na graça de todo o povo e a cada dia acrescentava-lhes o SENHOR os que iam sendo salvos (v.47).

Grandes lições podem ser extraídas dessa derradeira declaração. Em primeiro lugar, muito além das práticas religiosas rotineiras ou dos templos suntuosos, o que as pessoas realmente buscam, ainda que inconscientemente, são igrejas cujos membros de fato amem ao Senhor acima de todas as coisas e ao seu próximo como a si mesmo, uma igreja que tenha Cristo no centro e no comando, igrejas que vivam o modelo da igreja primitiva, externando isso em suas práticas diárias.

Em seguida, resta notória a assertiva segundo a qual o Senhor é quem acrescenta pessoas à igreja. Nota-se que o panorama da igreja primitiva, a forma maravilhosa como vivia, cheia do Espírito Santo, a aproximava do povo e motivava o Senhor a encaminhar para ela pessoas que viriam a ser salvas.

Em I Timóteo 2:4, o apóstolo Paulo afirma que Deus, nosso Salvador, deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Uma das incumbências da igreja é anunciar a salvação, apontar o caminho que leva a ela e incentivar as pessoas a avançarem em sua direção. Após a conversão, meio pelo qual se alcança a salvação, caberá à igreja encarregar-se do discipulado, ensinando o indivíduo a “doutrina dos apóstolos” a fim de que, no tempo oportuno, cumpra aquele os propósitos para os quais foi criado.

Diante disso, não seria equivocado afirmar que o Senhor, assim como busca adoradores que o adorem verdadeiramente, em espírito e em verdade, anda em busca de igrejas parecidas com aquela dos primórdios do Cristianismo. Para lá pretende encaminhar o imenso contingente que ainda precisa ser salvo e, outro imenso número de crentes que precisa ser cuidado.

Como podemos contribuir para isso? Lutando e trabalhando incessantemente para que nossa igreja se aproxime ao máximo do modelo adotado pela igreja primitiva, copiar suas práticas, viver como ela vivia. Deus se encarrega de fazê-la crescer. Parafraseando o apóstolo Paulo, nos cabe semear, lançar a Palavra, regar, cuidar da semente e do solo onde ocorreu a semeadura, mas Deus é quem faz crescer (I Cor.3:6).

A compreensão desse simples princípio tem se tornado cada vez mais difícil. Vivemos dias onde borbulham estratégias humanas de crescimento para as igrejas, métodos de multiplicação são encontrados e copiados aos montes. Estes, com o passar do tempo, em sua esmagadora maioria, mostram-se ineficientes e levam as pessoas, a bem da verdade, a se afastarem de Deus. Não raro, produzem crentes frágeis, mimados, sedentos por experiências emocionais.

Em suma, nos cabe cuidar da igreja, do ambiente ali existente, mantendo-a saudável, e a igreja primitiva nos fornece os elementos necessários para isso. Fazê-la crescer é missão de Deus. Ele tem grande interesse nisso.

Gostaria de concluir respondendo os questionamentos levantados no início do texto. Já existiu uma igreja perfeita? Cremos que sim, a igreja perfeita existiu e o modelo de igreja perfeita também; ambos acima apresentados.

E, ainda existe uma igreja perfeita? Difícil cravar uma resposta, mas se temos dúvidas quanto a isso, mirando na igreja primitiva, podemos afirmar que a igreja perfeita será aquela absolutamente submissa à ação do Espírito Santo de Deus. Ainda que tenha problemas – e eles sempre existirão – sob a direção do Espirito Santo, eles serão sempre resolvidos da melhor maneira.

Por favor, siga e compartilhe:
error

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *